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Mensagem  £ëø Mø®£ix 28/12/2011, 17:09

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>>>  Violinos não envelhecem <<<

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> Rubem Alves <

Eu a escrevi faz muito tempo --- uma estória de amor. Quem a leu, eu sei, não se esqueceu.
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Por razão do dito pela Adélia: " o que a memória ama fica eterno".
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História de amor não inventada, acontecida, tão  comovente quanto  Romeu e Julieta,  Abelardo e Heloísa. O que fiz foi só registrar o acontecido.
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Preciso contá-la de novo, para benefício daqueles que não a leram pela primeira vez, e a fim de acrescentar um final  novo, inesperado, acontecido depois.
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A testemunha que me relatou o sucedido foi sobrinho, médico-músico, pessoa querida e bonita.
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Atrasou-se para um compromisso na minha casa, chegou três horas depois, explicando que havia ido ao velório de um tio de 81 anos de idade que morrera de amor. Parece que seu velho corpo não suportara a intensidade da felicidade tardia,  e os seus  músculos não deram conta do jovem que, repentinamente, dele se apossara.
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O amor surgira no tempo em que ele é mais puro: a adolescência.
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Mas naqueles  tempos  havia uma outra  Aids,  chamada  tuberculose, que se  comprazia em  atacar as pessoas bonitas, os artistas, os apaixonados --- esses  eram os  grupos de risco.
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Pois ela,  a tuberculose,  invejosa da felicidade dos dois, alojou-se nos  pulmões do  moço, que teve de ir em busca de ar puro, no alto das  montanhas,  sanatório,  tal como  Thomas Mann  descreve em seu livro - A montanha mágica.
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Quem ia para tais lugares despedia-se com um "adeus", um olhar'' de  "nunca mais".
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Na melhor das hipóteses, muitos anos haveriam de passar antes do reencontro.
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Imagino o sofrimento da jovem dividida: o corpo, naquela casa, a alma por longe terra!
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Na vida daquela menina, que surda, perdida guerra... (Cecília Meireles).
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Valeram mais os prudentes conselhos da mãe e do pai: não trocar o certo pelo duvidoso.
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Vale mais um negociante  vivo que um tuberculoso  morto.  E aconteceu com ela o que aconteceu com a Firmina Dazza,  que de longe  e às escondidas namorava o Fiorentino Ariza, na estória de  Gabriel  García Márquez  Amor nos tempos do cólera, que foi obrigada pelo pai a se casar com o doutor Urbino: não se troca um médico por um escriturário. Casou e com ele ficou até que, depois de 51 anos, veio a libertação...
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 Ela casou.  Ele casou.  Nunca mais se viram.  Quando ele tinha 76 anos, ficou viúvo.  Quando ela tinha 76 anos (ele tinha 79), ela ficou viúva. E ficou sabendo que ele estava vivo.  A curiosidade e a saudade foram fortes demais.  Foi procurá-lo. Encontraram-se.  E, de repente, eram namorados adolescentes de novo.
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Resolveram casar-se. Os filhos protestaram. Eles, os filhos,  todos os filhos,  não suportam a idéia de que os velhos  também  têm  sexo.
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Especialmente os pais.  Pais  velhos  devem ser  fofos,  devem saber  contar estórias,  devem tomar conta dos netos.  Mas velho apaixonado é coisa ridícula.  Não combina.  Mais detalhes no livro da Simone de Beauvoir sobre a velhice.  E houve também aquela estória do programa  Você decide: o velho pai, infeliz  a vida inteira com a esposa,  encontra uma mulher  por quem se apaixona.
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A pergunta: ele deve ou não deve deixar a esposa para viver o novo amor?
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Você  decide... A decisão do  público --- os filhos, evidentemente: "Não, ele não deve viver o novo amor..."
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Os filhos  sempre  decidem contra o amor dos pais.
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Mas, na  nossa  estória, os dois velhos deram uma  solene banana  para os  filhos e  foram  viver  juntos em Poços de Caldas.  Viveram um ano  de  amor maravilhoso,  e ele até começou  a escrever poesia e voltou a tocar o violino  que ficara  por mais de  50 anos  sobre  um guarda roupa,  porque a esposa  não gostava de música de violino.  Confessou ao  sobrinho:  "Se  Deus me der dois anos de vida com esta mulher, minha vida terá valido a pena..."  Bem que Deus quis.  Mas o  corpo não  deixou.
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Morreu  de  amor, como temia o Vinícius.
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Achei  a  estória tão bonita que a transformei numa crônica a que dei um título inspirado nas Sagradas Escrituras: "... e os velhos se apaixonarão de novo".
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Começa  aqui o  novo  final  para a  estória.
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Passaram-se  semanas. Eram dez horas. Eu estava  trabalhando no meu  escritório. O telefone tocou.
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Voz aveludada de mulher do outro lado.
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--- É o professor Rubem Alves?
--- Sim, respondi secamente. Eu sou sempre seco ao telefone.
--- Quero agradecer a belíssima crônica que o senhor escreveu com o título: " ...e os velhos se apaixona-rão de novo".  O senhor já deve ter adivinhado quem está falando....
--- Não, respondi. Por vezes eu sou meio burro.  Aí ela se revelou:
--- Sou a viúva.
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Foi o início de uma deliciosa conversa de mais de 40 minutos, interurbano, em que ela contou detalhes que eu desconhecia.  O medo que ela teve quando ele resolveu mandar consertar o violino!  Ela temia  que  os dedos dele  já estivessem  duros demais...
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Ah!  Que metáfora fascinante para um psicanalista sensível!
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Sim,  sim!  Nem os violinos ficam velhos demais, nem os dedos  ficam impotentes  para  produzir  música!  E aí foi  contando,  contando, revivendo, sorrindo, chorando --- tanta alegria, tanta  saudade, uma eternidade  inteira num grão de areia...  Ao terminar,  ela fez esta observação maravilhosa:
.

--- Pois é, professor.  Na idade da gente, a gente não mexe muito com sexo.  A  gente vive de ternura!
.


Aqui termina a lição do Evangelho.
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